Orson Peter Carrara
Pelas valiosas e oportunas considerações de carta recebida por e-mail, considero muito útil divulgar seu conteúdo, ainda que parcial. Diz o amigo que escreveu:
_ “Caro amigo Orson! Foste muito feliz ao colocar a questão do “dever” como um dos temas de suas palestras. Antes. Foste corajoso, pois nos tempos atuais não teria assunto mais antipático. Como alguém ousa falar dos deveres, quando o que se busca são as comodidades, as facilidades, as conveniências? O dever é tudo o que não quer o homem moderno. Já lhe bastam as tarefas do dia-a-dia, no trabalho e nas escolas… De resto o que se quer é esquecer todo e qualquer compromisso, pois dever já não se é nem mais um termo usual. Pais querem ser liberais, filhos querem ser livres, famílias querem ser modernas, cidadãos querem descansar e curtir a vida. Sabendo disto o mundo – este grande mercado – limitou-se a produzir o que é vendável, em prol da comodidade. E o que é vendável senão os produtos que vão ao encontro a estes anseios das pessoas? É a cultura dos shoppings centers, dos fast foods, dos trânsitos nas ruas de nossas cidades, da relação com o meio ambiente, das relações interpessoais; e por que não dizer de muitas práticas religiosas. O que e como são as telenovelas, os telejornais, os programas de auditórios e os novos “reality shows” que invadem nossos lares 24 horas por dia? Como vai a produção artístico-cultural? Pensa-se no dever para com os necessitados, ao se fazer uma compra desnecessária? Pensa-se no dever para com a sua saúde, ao fazer as ditas refeições rápidas? Pensa-se no dever de civilidade, ao dirigir por nossas ruas e estradas? Pensa-se no dever de sustentação ambiental do planeta, no futuro, ao adotar o consumismo, ao se descartar o lixo, ao utilizar meios poluidores do ar, da água, do solo? Pensa-se no dever, particularmente no dever da Adoração ao Criador, quando se aventura em tudo que é prática religiosa mistificadora e salvacionista? Pensa-se no dever de prover um ambiente saudável em nossos lares, ligando indiscriminadamente nossos aparelhos de TVs para distrair-nos ou distrair nossos filhos? Pensa-se no dever de aprimoramento cultural e no dever de prover nossa alma do deleite cultural, quando saímos para as baladas? A difusão de um mundo de facilidades já dificulta por demais o cumprimento dos compromissos político-sociais e culturais do homem, o que dizer então dos deveres morais? Se a sociedade já não cobra os compromissos, as consciências individuais ignoram e desprezam veementemente os deveres morais, que estão no fórum íntimo de cada pessoa. Mas, justamente por estar na consciência individual, os deveres não têm como ser apagados. Inscritos na alma de cada ser humano, este pode até renegá-los, mas nunca extirpá-los. Ainda mais, sabendo que cada existência individual humana neste planeta foi precedida de sabe-se quantas outras existências, que cada reencarnação é uma concessão divina para pagar débitos e buscar o progresso espiritual. Assim, cedo ou tarde, os deveres se aflorarão, cobrando-nos seu cumprimento. Convivendo com certas pessoas ou lendo certos livros conhecemos espíritos que marcam ou marcaram sua passagem nesta Terra e destacam-se da maioria contemporânea. Não por possuírem poderes espetaculares ou extraordinários, mas apenas por serem espíritos rigorosamente cumpridores de seus deveres. Assim, o que fazem encantam, pois tudo é feito com tal zelo e amor que supera às vãs expectativas dos seus co-existentes. (…)”
Por igualmente oportuno, destaco frase constante do livro Memórias do Padre Germano – página 131, também citado pelo amigo, editado no Brasil por 3 editoras, de comoventes casos relatados pelo sábio sacerdote, em obra repleta de ensinos:
“A satisfação que minha alma sente, a tranquilidade do espírito que cumpriu seu dever é o justo preço que Deus concede àquele que pratica Sua Lei. Ao pensar que por obra minha há uma vítima a menos, como sou feliz, Senhor! Quanto te devo, porque me deste tempo para progredir, para reconhecer tua grandeza e prestar culto, com minha razão, a tua verdade suprema!”
Penso que o material transcrito é suficiente para profundas reflexões.
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