Orson Peter Carrara
Há muito tempo, desde a época de menino quando ia visitar a chácara de minha avó paterna, eu não ouvia o “cantar de galo”. Um dia desses, fui surpreendido por um galo cantando logo ao amanhecer. Qual dos vizinhos foi arrumar um galo? fiquei a pensar.
O interessante, porém, é que o canto do galo incomodou o cachorro que desfruta de nossa convivência doméstica. A cada “cantada” do galo, lá vinha o cachorro com suas “latidas” incomodadas. É que, para ele, vivendo na vida urbana, o barulho soou estranho. E isto incomodou todo mundo, acho mesmo que acordou os vizinhos.
Aí fiquei a pensar como os barulhos externos nos incomodam. Tudo que é novo traz desassossego, incomoda, pois temos, também os humanos, resistências a novidades. Se incomoda o cachorro, a intensidade é ainda maior entre seres humanos.
Assim é que as grandes ideias, especialmente as novas, incomodam tanta gente. Igualmente as mudanças, que muitas vezes se fazem necessárias, incomodam e muito. Aí surgem as divergências, as resistências naturais que em muitas ocasiões se tornam inclusive violentas. Aliás, vale dizer que qualquer nova ideia sempre encontrará opositores e questionadores de plantão. Questionadores que se posicionam contra só para se oporem mesmo, sem conhecerem as novas propostas, sem analisarem razões, benefícios ou propostas apresentadas.
É necessário que, antes de criticar posturas ou ideias, habituemo-nos a pelo menos conhecer a ideia, conhecermos o assunto, para depois apresentar, aí sim, argumentos contrários bem fundamentados, ao invés de simplesmente apresentarmos oposição sistemática e adotarmos postura de indiferença ou mesmo crítica descabida.
Isso ocorre numa família, numa empresa, numa cidade, e mesmo numa nação; ocorre nas diversas áreas profissionais, políticas, artísticas e mesmo religiosas. Que pena! Perde-se valioso tempo que poderia ser aproveitado para aproveitar ou descartar ideias, se essas fossem analisadas com o critério da imparcialidade e da ética, que respeita o direito de livre expressão. Note-se que as grandes ideias apresentadas à humanidade foram rejeitadas, perseguidas (e, em consequência, com perseguição a seus autores e pessoas que a elas aderiram), combatidas, inclusive a maior delas, que ainda não foi compreendida completamente…
No fundo, porém, esse período de rejeição é até útil, pois que permite o amadurecer das próprias ideias, a maturação junto às mentes que a elas aderem ou às que a elas se opõem. Não há outro jeito: é o preço do amadurecimento. É um processo ainda necessário no mundo que vivemos. Felizmente, em todos os tempos, estamos acompanhados de idealistas corajosos e determinados.
Tais reflexões cabem no momento atual do mundo. Ideias e opositores em todas as áreas de ação humana. Situação bem própria de um planeta em transição, no entrechoque das opiniões. A lei do progresso, todavia, bem descrita por Kardec em O Livro dos Espíritos, é inevitável, e levará ao despertamento dos que ainda dormem e trará alegria verdadeira aos que lutam por um mundo melhor. Por isso, nada de desistir. Coragem e determinação, persistência com o uso da paciência que constrói gradativamente, são os ingredientes dessa luta de conquistas, que amadurece e desperta.
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