Uma lembrança carinhosa surgiu-me espontaneamente por esses dias em virtude da pergunta de um amigo sobre a origem de meu gosto em escrever. A pergunta levou-me às memórias da infância quando meu velho e querido pai utilizava uma pequeno retângulo de cartolina no mesmo tamanho de um sabonete que vinha dentro da embalagem do próprio produto.
Isso era comum até meados da década de 70. Lembram-se disso? Em cada unidade do conhecido e usado produto de higiene pessoal, dentro da embalagem das tradicionais e poucas marcas das empresas mais conhecidas, vinha também um pequeno retângulo em cartolina de cor branca, praticamente no mesmo tamanho do sabonete.
E meu pai utilizava esse pequeno retângulo branco em cartolina para escrever frases curtas, normalmente ensinos do Evangelho ou de sábios instrutores da vida maior, como estímulo à sua leitura rápida e reflexiva de seu conteúdo. Por exemplo: Sede Perfeitos como Perfeito é o vosso Pai Celestial, ou Ama a Deus e ao próximo como a ti mesmo. Ou ainda: perdoa setenta vezes sete vezes. Há inúmeras frases que ficaram fortemente gravadas em minha memória, com repercussões para a vida inteira, em função desse saudável hábito de meu pai que espalhava esses pequenos cartões sobre os móveis da casa, ou dentro de livros e cadernos, em ambientes onde os olhos pudessem ver rapidamente.
Frases como: Conhece-se a árvore pelo fruto, Deixai vir a mim as criancinhas, Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra, Faça aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, Bem aventurados aqueles que são brandos e pacíficos, entre tantos outros ensinos conhecidos e tão maravilhosos como orientação de vida, sempre em frases curtas, com identificação do autor, marcaram-me profundamente a infância. Vejo-os hoje na memória como se fosse naqueles memoráveis dias da infância.
Também frases curtas e objetivas de Emmanuel e André Luiz, na psicografia de Chico Xavier eram anotadas pelo meu pai nesses pequenos cartõezinhos que ele deixava em lugares estratégicos de casa ou de outros lugares onde tinha oportunidade de deixá-los. Cresci vendo ele fazer isso. E também passei a fazer.
Nos tempos de bancos escolares cheguei a fazer isso, copiando frases curtas e distribuindo aos colegas de classe ou deixando-os em lugares estratégicos onde alguém os encontraria.
Essas reflexões surgem porque todos temos imensa necessidade de orientação nas diferentes fases da vida. O fato de escrever uma frase, de pensar nela, de refletir sobre seu conteúdo fortalece nossa sensibilidade, faz criar raízes culturais e emocionais, estabelecendo vínculos ou conexões que surgirão em momentos da vida que nem suspeitamos. Estão arquivadas e surgem como socorro oportuno em momentos de necessidade ou busca de orientação. Estudar anotando é diferente de apenas ler. Escrever o que se lê cria vínculos mais profundos e duradouros para a vida.
Por isso é importante persistir nas reflexões, inclusive anotando-as.
Por outro lado, com a responsabilidade que todos trazemos na educação e na transmissão de bons exemplos às crianças, tratemos de estar atentos a semear em seus corações as virtudes da esperança, da espontaneidade do amor, do conhecimento, pois que essas sementes frutificarão um dia.
A lembrança da cartolina dentro da embalagem do sabonete, que não estava em minhas cogitações e nem esteve nos últimos quarenta anos, surgiu espontaneamente diante da pergunta: De onde o gosto de escrever? A memória buscou e respondeu imediatamente o hábito de meu velho e querido pai que semeou em meu coração esse gosto por anotar as divinas orientações dos mais sábios conceitos que regem a vida.
Semeemos, pois, o amor, a concórdia, a honestidade, a solidariedade e as lições insubstituíveis do Evangelho nos corações e mentes infantis para que, quando adultos, reflitam o amor que tanto precisamos todos.
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