Wellington Balbo
Em conversa com um amigo, já faz um tempo, ele indagou sobre a questão 676 de O Livro dos Espíritos, em que os invisíveis dizem a Kardec que a imposição do trabalho atende a dois objetivos: expiação e desenvolvimento da inteligência.
O que deixou o amigo cismado foi o termo “expiação”, haja vista que, apaixonado pelo seu trabalho, nosso interlocutor o concebe como um prazer, uma realização em que, além de desenvolver a inteligência o faz feliz pela execução de sua tarefa que, em nosso diálogo, chamou de abençoada oportunidade de crescimento.
Já falamos em outras oportunidades da importância de entender o que queria dizer Kardec com o termo expiação. Numa explicação bem simples, Kardec diz que no estado de Espírito errante a expiação é moral e como Espírito encarnado a expiação é física.
Diante de uma análise da questão proposta, não podemos esquecer que as respostas dadas pelos Espíritos a Kardec são do século 19, portanto, para não fugirmos muito da realidade precisamos entender os contextos.
Naquela época o trabalho era, para a maioria das pessoas, sinônimo de sofrimento físico, uma autêntica expiação, como relatam os Espíritos, haja vista que tínhamos jornadas de 15, 16 horas, sem Leis que regulamentavam as relações entre empresas e colaboradores, condições de trabalho inóspitas, salários muito baixos. Enfim, não havia este prazer, citado pelo amigo, no trabalho que traz o ganha pão diário, ao contrário, era, como se diz na passagem evangélica, choro e ranger de dentes num verdadeiro vale de lágrimas.
Natural, portanto, a resposta dada pelos Espíritos naquele momento.
Hoje, com o avanço do mundo onde vivemos, o trabalho profissional já não é, para muitos, fonte de expiação que impõe sofrimentos físicos. O incremento da tecnologia trazido pela ciência faz com que o trabalho traga, também, prazer e realização pessoal, além, é claro, do desenvolvimento da inteligência, sem o qual o homem ainda estaria engatinhando no campo da civilização.
Longe de estarmos num mundo ideal, porém, já ficou para trás o século 19, e duvidar disso seria colocar em xeque a Lei do Progresso.
Eis, porque, acima, uma das hipóteses, penso, de os Espíritos terem tratado o trabalho como uma imposição imposta por conta da natureza corporal do homem.
Hoje, todavia, vigora uma natureza um pouco mais desenvolvida, mais intelectual que outrora, o que traz, naturalmente, outras possibilidades de encarar a questão 676.
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