Orson Peter Carrara
Como sabem, sou espírita de infância. Meu avô, João Carrara, integrou a equipe de fundação do Centro Espírita Francisco Xavier dos Santos, nos idos de 1923, portanto, há um século, na cidade paulista de Mineiros do Tietê.
Meus pais, também espíritas, me integraram à vida da instituição, naturalmente, onde pude muito aprender e onde desenvolvi o senso e discernimento doutrinário do Espiritismo, critérios indispensáveis para a boa prática espírita. Eles evitam o fanatismo, encaminham para a exata noção de que somos todos meros aprendizes, e nos fazem entender a vida e seus desdobramentos, especialmente através da lógica e do raciocínio.
Essas bases estão na Codificação de Allan Kardec (os cinco livros a partir de O Livro dos Espíritos). Desde a infância, portanto, ali integrado e sob a expressiva influência doutrinária de Pedro Carrara (meu tio, mais conhecido como Pedrinho), aprendi o que é o Espiritismo e sua prática, sem quaisquer inclusões distorcidas que muitas vezes ameaçam aqueles que se deixam levar pelo entusiasmo fácil ou pela falta de observação crítica e racional do fato. Que fato, talvez se pergunte o leitor? O fato de nossa natureza, origem e destinação, e especialmente da comunicação dos espíritos, por meio da mediunidade – fenômeno natural da capacidade humana, não exclusivo dos espíritas, não inventado ou imaginado por Kardec, mas atributo humano, presente em todas as crenças, segmentos sociais, raças ou nacionalidades, independente da cultura, do nome, da posição social e mesmo da idade ou sexo.
Sem falar no aspecto consolador, confortante e racional, oferecido pelo conhecimento espírita sobre nossa realidade de criaturas imortais, imensamente amadas. É todo um conhecimento que se desdobra, fazendo-nos compreender as razões das aparentes injustiças e dos extremos que nos caracterizam a imensa diversidade humana.
Mas a razão maior da presente abordagem é a gratidão que brota, espontânea, quando a instituição fundada lá em 1923 completa um século de existência e funcionamento ininterrupto. Apesar das dificuldades todas, naturais de nossa condição humana, e desde o início de sua jornada com o enfrentamento dos preconceitos e mesmo atualmente com outros desafios decorrentes de vários fatores sociais, econômicos e humanos, inclusive dos próprios adeptos – criaturas humanas como quaisquer outras, que antes de serem espiritas, são seres humanos, com suas conquistas, carências, dificuldades e tudo mais…
Mas é isso. Um século desde a fundação em 22 de março de 1923, por Marcelino Martinez, cuja história merece abordagem específica, tanto pessoal e familiar, como da própria história da instituição nesses cem anos.
Sim, a gratidão brota espontânea! Para seus fundadores pioneiros, continuadores no tempo e atuais administradores e integrados à sua realidade que procura viver o Espiritismo.
Particularmente, minha história de vida tem vínculos emocionais enormes com a instituição. Não só ali muito aprendi e me desenvolvi como pessoa, como tive a oportunidade de administrá-la igualmente, acompanhando sua trajetória e seus personagens que comigo ali estiveram. Um século de história é bagagem, é conteúdo. As lembranças são muitas, impossíveis de aqui serem narradas, mas fica aqui nosso registro. A data não poderia passar em branco.
Meu coração se volta a todos os amigos, do passado, do presente e daqueles que ainda virão para que a história continue semeando fraternidade e esperança. Muito obrigado!
Dois programas comemoram a data:
- No próprio dia 22 de março, quarta, diálogo sobre a importância do centenário e do próprio Centro Espírita, com os palestrantes Orson Carrara e Vinícius Castro;
- No dia 1 de abril, um sábado a tarde, presença da psicóloga Deusa Samu, em seminário interativo.
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