Orson Peter Carrara
Em suas Impressões Gerais, constante do indispensável livro Viagem Espírita em 1862 (que recomendamos com ênfase aos dirigentes, médiuns e tarefeiros espíritas), de Allan Kardec – com a tradução e precioso Prefácio de Wallace Leal V. Rodrigues (edição do CLARIM), entre valiosas e pertinentes considerações sobre vários ângulos, às páginas 32 a 33 da 2ª. edição, o Codificador refere-se à obsessão, onde afirma: “(…) os casos de obsessão são muito raros entre aqueles que fizeram um estudo prévio e atento de O Livro dos Médiuns e se identificaram com os princípios nele contido, pois que se mantém vigilantes, atentos aos menores sinais que podem atrair a presença de um Espírito suspeito. Vimos alguns grupos que, sem dúvida, encontram-se sob uma influência abusiva. Mas é evidente que se comprazem com ela e dela se tornam presa por uma confiança demasiada cega e, além disso, por certas predisposições morais. Outros, pelo contrário, alimentam um tal temor de serem enganados, que levam a desconfiança, por assim dizer, ao excesso (…) preferindo rejeitar o duvidoso a correr o risco de admitir o que seria mau. (…)”.
E continua com sua habitual lucidez: “(…) O excesso em tudo é prejudicial, mas, em semelhante caso, vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança. (…)”. E antes havia ponderado: “(…) Assim, os Espíritos mentirosos, sentindo-se inúteis, terminam por se retirar, indo se desforrar junto daqueles que percebem menos vigilantes e nos quais encontra fraquezas e exuberâncias de espírito a explorar (…)”.
Prudência e confiança cega são dois extremos. A prudência solicita a análise cuidadosa que evita desastres futuros; a confiança sem ponderação trará as consequências sempre lamentáveis e desastrosas justamente pela falta de análise racional e imparcial. Portanto, há que se concordar com Kardec: vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança. A melhor defesa para essas armadilhas que podem surgir no caminho de qualquer pessoa ou instituição será sempre o conhecimento e a prática do bem. O conhecimento clareia o caminho e previne de ilusões, a prática do bem protege, mas ambos precisam andar juntos, pelo menos no que se refere à prática mediúnica.
Registre-se os 160 anos, em 2022, das proveitosas viagens de Kardec, registradas na obra em referência.
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