Orson Peter Carrara
A vida adulta proporciona de um lado a liberdade de escolha de nossos próprios caminhos, seja em nossos horários e decisões, seja nas atividades a que nos dediquemos ou nos caminhos que a maturidade vai trazendo por si só. Por outro lado, o descuido com o comportamento igualmente pode trazer condicionamentos perigosos que se apresentam na forma de manias, neuroses, pontos de vistas arraigados e presos a tradições, crenças ou verdadeiras prisões emocionais e psicológicas, que podem se traduzir com o tempo em doenças e desequilíbrios.
A infância, todavia, tem necessidade da rotina que a educação dos pais precisa impor nos primeiros anos. Horário para levantar-se, dormir, alimentar-se, banhar-se. A rotina de hábitos que depois recebe o acréscimo dos horários da escola, de fazer tarefa escolar e mesmo a disciplina de arrumar a cama, colaborar com pequenos afazeres domésticos, educação com os mais velhos, guardar os brinquedos e ter cuidados com o próprio material da mochila da escola, escovar os dentes, entre tantos outros cuidados domésticos, é item essencial para formar o cidadão integro do futuro.
É da disciplina da família, do equilíbrio dos pais, do afeto vivido em casa ou dos deveres criados pela rotina, é que formamos o adulto equilibrado de amanhã que, quando adulto e livre para suas próprias, vê eclodir de si mesmo as noções de dignidade e hombridade – fruto da semeadura sadia dos pais na rotina necessária na primeira infância.
A vida cotidiana atual, entretanto, tem agido de maneira oposta. Vivemos todos uma vida atribulada, na indisciplina própria que vivemos na vida adulta, e semeamos no coração infantil, que ainda está formando referências, uma confusão que fará adultos inseguros, igualmente indisciplinados e muitas vezes incapazes de conduzir a própria vida, porque não tiveram na infância rotina da disciplina que educa. Por isso encontramos hoje tantos adultos sem equilíbrio. Vivem sem horários, não se firmam em compromissos, desrespeitam valores, não conseguem viver um roteiro próprio que lhes dê segurança nas ações diárias.
Complexo desafio individual e social, esse.
Como vencer isso? Só o tempo que hoje já nos mostra a consequência direta de nossa indisciplina de ontem. Lares tumultuados, filhos indisciplinados, sociedade perturbada.
O único caminho é voltar aos velhos padrões de dignidade na vivência disciplinada do lar, especialmente na primeira infância. Dedicar aos filhos a atenção de nossa presença e afeto, fazer-lhes sentir o calor de nossa dignidade, em valores que se perpetuam como referenciais para o futuro da personalidade que se forma.
Ah! Por que tantos se perdem hoje nas drogas? Por que tantos hoje se desequilibram, perdem o sentido da vida e ficam atordoados sem saber para onde se dirigem? Além da bagagem própria, faltou-lhes a rotina necessária da disciplina necessária que só a vida familiar pode proporcionar…
É ela que forma o referencial de agir… Ela educa o comportamento, eis o segredo. Ainda somos criaturas com necessidade de repetição das experiências para que o aprendizado se faça.
E vejam como é sábia a vida. Necessária na formação da criança que se tornará adulto consciente, o suceder das décadas vai trazendo rotinas novas, que nos amadurecem em aprendizados permanentes e contínuos, alterando as rotinas tão necessárias da infância. Da primeira infância, passamos a crianças que crescem e que vão à escola; depois nos tornamos adolescentes, jovens, maduros e avançamos na terceira idade. Nesse suceder de experiências, sempre novas, novas rotinas. Todas necessárias para trazer o amadurecimento que traz a sabedoria. E, por mais paradoxal que possa parecer, quando avançamos na terceira idade, uns nos tornamos ranzinzas, outros nos tornamos mais serenos e calmos.
Quais as razões de tais diferenças na terceira idade? Eis o desafio que deixo à reflexão do leitor. Até onde a rotina ou a ausência dela, nas referências educativas da criança, influem nesse processo?
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