Orson Peter Carrara

Penitenciárias

Penitenciária

Orson Peter Carrara

Coincidindo com a crise prisional no país, encontro na sabedoria de Amália Domingo Soler, no fabuloso livro A Luz do Caminho, que está esgotado e logo estará reeditado, o notável capítulo A Eterna Justiça, que parece foi escrito para a atualidade do país, embora escrito há mais de um século. Faço aqui pequenas transcrições parciais do citado capítulo:

  • Você então acredita que com suas prisões se consegue a cura do criminoso? É um equívoco gravíssimo, porque, como regra geral, seus condenados são homens quando entram nos calabouços, mas ali se convertem em feras indomáveis (…);
  • (…) se dobram o corpo sob o poder do chicote, não dobram seu Espírito, pois continuamente se está vendo que os crimes mais terríveis, que os atentados mais cruéis, que o ódio mais concentrado, quem os sente ou os comete?
  • Eis como funciona a corrigenda de um criminoso de ontem, e não é porque seja um monstro da iniquidade, mas porque matou, sem estudar a natureza do seu crime, as leis o condenaram a alguns anos de prisão.
  • (…) entrou na prisão aturdido, surpreso e assustado por sua própria obra; entrou como aprendiz, como se costuma dizer, na oficina dos crimes e saiu mestre consumado, o que prova que seus castigos violentos produzem um resultado completamente negativo, o que não ocorreria se os criminosos fossem tratados como se tratam os enfermos.
  • (…) embora falte muito para que os enfermos pobres sejam tratados nos hospitais com as considerações e atenções devidas, não os golpeiam e não os submetem a continuados jejuns para curar suas doenças; dão-lhes medicamentos, alimentos, fazem operações que, conquanto dolorosas, têm por objetivo separar o membro gangrenado do resto do corpo, para que este se conserve saudável.
  • Ora, se assim tratam as enfermidades do organismo, com relativo acerto e com o sadio desejo de conseguir a cura completa, por que não fazem o mesmo com as enfermidades da alma?
  • Que vocês pensam que são os criminosos? (…) cada um deles apresenta distinta enfermidade (…) quanta diferença existe na origem da criminalidade!
  • Curar a doença por meio de um tratamento geral é como se num hospital cheio de enfermos, cada um com sua doença particular, dessem a todos o mesmo medicamento, pretendendo que se curasse com o mesmo remédio o tuberculoso incurável e aquele que somente tivesse uma leve febre.
  • Dia chegará (…) em que suas horríveis prisões serão substituídas por casas de saúde, onde os criminosos serão julgados, não por juízes, mas por sábios psiquiatras, e cada ser que cometa um delito será um livro aberto no qual o médico encarregado de sua cura lerá constantemente.
  • A doçura é o modo de corrigir os culpados; (…) os crimes diminuirão à medida que os criminosos sejam considerados doentes em estado gravíssimo que necessitam de especiais cuidados e múltiplas atenções, e de alguém que os ensine a trabalhar e, o que é mais difícil, a amar o trabalho (…)
  • Que diferentes resultados obterá o sistema penitenciário de que se fará uso nos séculos vindouros!

Nossas autoridades precisam conhecer uma sábia orientação dessa natureza. O império do materialismo, da indiferença e o predomínio do egoísmo formam esse quadro complexo que estamos enfrentando no país. Daí a imperiosa necessidade da expansão da visão imortalista da vida, que não se resume a algumas décadas nesse corpo frágil que utilizamos.

Concluo com trecho no final do capítulo: “(…) eduquem-nos (…) para que comecem a ser úteis a seus semelhantes, porque toda água que se dá aos sedentos, encontra-la-ão depois em gotas de precioso bálsamo que lhes servirá mais tarde de alimento e vida (…)”.

Não é o grande desafio da nação? Até onde vamos com nossa indiferença? Multiplicam-se os condenados e penitenciárias, esquecidas as autoridades do poder da educação (e sua estrutura, claro!) Que, curiosamente, começa em casa, antes do berço, no aconchego familiar, no exemplo dos pais e no Evangelho do Cristo, único capaz de formar autênticos homens de bem.

 

 

 

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