Cotidiano - Wellington Balbo

Um novo tempo…

ano-novo

Wellington Balbo – Salvador BA

Texto publicado pelo jornal Momento Espírita, do CEAC de Bauru SP.

 A natureza não reconhece a diferença entre os meses e, por isso trabalha ininterruptamente sem importar-se com a gigantesca distância, ao menos para nós, que existe entre 31 de dezembro e 1 de janeiro. Já o ser humano, pelo fator psicológico, enxerga nas duas datas citadas um abismo. Um ciclo se fecha, um ano que se finda e outro ano que se inicia. Novas oportunidades, um sol brilhando de maneira mais clara, um ano todo para recomeçar e escrever ou reescrever a história.

E o capítulo V de O Evangelho segundo o Espiritismo “Bem Aventurados os Aflitos”, é um magnífico convite à reflexão, principalmente quando chegamos nessa época de final de ano, em que nos vemos envidados a fazer um balanço existencial. E neste mesmo capítulo está o tópico “Esquecimento do passado”. Vejamos uma parte:

“Deus nos deu para melhorarmos,  justamente o que necessitamos e nos é suficiente: a voz da consciência e as tendências instintivas; e nos tira o que poderia prejudicar-nos”.

Como lemos acima, a bondade divina atende perfeitamente nossas necessidades. Deus, em sua infinita misericórdia, deixa o necessário para nosso adiantamento e nos faz esquecer temporariamente o que poderia nos prejudicar.  Portanto, não há razões para nos debatermos em um passado que nos traria constrangimentos, diminuindo nossa estima ou exaltando nosso orgulho. Deus é o divino educador e prima por nos ensinar a viver, por isso não precisa nos torturar fazendo-nos lembrar de nossos desvarios para que aprendamos. Não necessitamos lembrar de um passado repleto de lixos emocionais, de mágoas, tristezas e rebeldias que tanto nos fizeram sofrer.

Deus apaga temporariamente o passado tortuoso, mas não apaga de nossa consciência o passado saudável, o passado de amor, de amizade e de boa convivência. Aliás, este passado deve ser cultivado em nosso coração. Deus não apaga a lembrança dos amigos de infância, da primeira professora que tanto bem nos fez, do primeiro amor que tanta emoção nos causou…

O esquecimento é para o passado sinistro e tenebroso de equívocos perpetrados, de desesperança e dor. Este passado devemos temporariamente esquecer. Mas o passado das boas lembranças permanecem. Ainda bem! E como é bom voltar ao passado e viajar no tempo das doces recordações. É com carinho que me lembro de minha mãe que tão nova se mudou para a pátria espiritual, é com ternura que me lembro dos amigos de infância em Imperatriz-MA. Ah, não posso esquecer os amigos da época da escola, da faculdade, das empresas por onde passei, todos trazem alegres lembranças, doces recordações. Tenho certeza que você, caro leitor e leitora, também está puxando na memória os amigos, os acontecimentos felizes, as eternas lembranças dos afetos queridos. Este passado a bondade divina não apaga. Alguns poderão questionar:

Mas tive um passado de dor, desilusão e sofrimento, como esquecê-lo? Como esquecer aqueles que me fizeram sofrer? Como esquecer ocorrências que tanto mal me causaram? A você, caro leitor e leitora, podemos afirmar que dói muito mais fazer sofrer do que sofrer. Quem fez sofrer habilita-se ao pagamento, no entanto, quem sofreu pode seguir em frente, renovando as idéias, a vida e construindo um novo futuro.

A propósito, o findar do ano é propício para duas coisas: lembrar dos acontecimentos felizes e esquecer as passagens infelizes. Enfim, o findar do ano é tempo de refletir e recomeçar. Se a mágoa o visitou. Perdoe. Feriram seu coração? Perdoe. Causaram-lhe prejuízos? Perdoe. Perdoe sempre e lembre-se:

Viver bem é questão de escolha e recomeçar é um direito de todos. Deus nos quer felizes, por isso, ano novo, novos projetos e fé na vida.

 

Ano novo, novo tempo…

 

Jano, o deus romano das duas faces, o deus das portas que se abrem e fecham a representar o tempo que passou e o tempo que começa, foi a inspiração para que o imperador romano Numa Pompílio (717-673 a.C.) inserisse o mês de Januarius no calendário que sucedeu o de seu antecessor, o imperador Rômulo (753-717 a.C) que tinha 304 dias e apenas 10 meses.

Como os romanos eram supersticiosos e consideravam que os números pares davam azar, Januarius tinha somente 29 dias, e também não era o mês que iniciava o ano.

Somente com a entrada do calendário Juliano, que substituiu o também confuso calendário de Numa Pompílio, é que Januarius tornou-se a porta de entrada para um Ano Novo.

E hoje, já no calendário Gregoriano, o nosso Janeiro com 31 dias  representa as portas que fecham velhos tempos e abrem novas oportunidades.

Portas que, pelo menos em tese, deveriam fechar velhos tempos; tempos onde fomos invadidos pela mágoa, decepção e um mar de ilusões. No entanto, há pessoas que não conseguem se desapegar do passado e acumulam triste lixo emocional.

Caminham pela vida 40,50 anos atrás, com a mente intoxicada pelos pensamentos tortuosos e o coração endurecido pela mágoa e ressentimento.

É necessário trancar as portas do passado para que se abram as portas do novo tempo. Detalhe importante: o Janeiro de novas oportunidades não carece começar no Janeiro do calendário. O Janeiro que abre novos tempos pode começar em Dezembro, Março, Abril… é o Janeiro do novo homem, é o Janeiro que demarca um novo ano e não somente um ano novo.

O ano novo obedece a cronologia, o novo ano não necessariamente. A própria vida mostra isso todos os dias. Inúmeros Espíritos reencarnam ensejando o recomeço nos mais diversos meses do ano. Em Abril, Maio ou Junho inúmeras pessoas retomam projetos engavetados, dão nova chance ao coração, retomam os estudos, perdoam, prosseguem. O que seria isso senão um autêntico Janeiro a florescer em novas oportunidades que damos a nós mesmos?

Por isso, forçoso admitir que não há barreiras de meses, dias ou anos quando queremos reconstruir nossa vida. O tempo é agora, o Janeiro pode ser em Julho.

E para provar que os novos tempos conspiram a nosso favor vemos que a Bondade Divina faz sua parte com excelência.

Como abordamos acima, o esquecimento temporário representa a tranca das portas do passado. A reencarnação a chave que abre as portas para novos tempos, e, de quebra, levamos para os novos tempos não a lembrança que poderia paralisar e intimidar, mas a experiência  que se traduz na forma da intuição e do conhecimento, verdadeiros faróis existenciais que mostram o melhor caminho a seguir.

A você, caro leitor e leitora, um feliz ano novo, e, sobretudo, um proveitoso novo ano.

Que se abram as portas do Janeiro das oportunidades e do recomeço, da continuação ou retomada de projetos e da conquista do sucesso existencial, objetivo de todos nós na peregrinação terrena.

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