Wellington Balbo – Salvador – BA.
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. (São Mateus, V: 3)
Percebo que o conhecimento intelectual de determinada ciência coloca-nos, não raro, numa sinuca de bico. Se por um lado liberta-nos, porque conhecer é libertar-se da ignorância, por outro lado aprisiona numa espécie de responsabilidades em ter de dominar tudo daquela área, ao menos é assim que muitos pensam e, também, como pensa a sociedade, pois cobra demais do indivíduo.
Se ele é médico cardiologista deve saber tudo de coração. Se é psicólogo deve saber tudo sobre emoção e sentimento. Se é formado em língua portuguesa deve dominar a arte de escrever por completo, e por aí vai…
Entretanto, bem o sabemos que as coisas não funcionam desta forma. Não é porque somos especialistas nisto ou naquilo que tudo deste campo saberemos, porquanto as coisas neste planeta estão evoluindo, então, com freqüência surgem novas situações que nosso conhecimento ainda não abarcou.
Recentemente vi dois exemplos claros da pressão que o conhecimento imprime nas pessoas.
Vejamos:
Caso 1 – Na fila de passe está o presidente do centro espírita. As pessoas admiram-se e iniciam, mesmo que de forma discreta, um apontar o dedo, balbuciando frases do tipo: Mas você tomando passe? Mas justo você passando pelo atendimento fraterno? Mas você, com todo seu conhecimento, em depressão?
Caso 2 – Marcos, voluntário do centro espírita X estava no atendimento fraterno e teve a oportunidade de receber uma psicóloga clínica. Com as emoções em pandarecos ela disse a Marcos sentir-se mal com as cobranças que são impostas pela sociedade e por ela mesma, haja vista que todos dizem ser ela psicóloga e, por isso, tem condições de lidar com seus dilemas e dramas de forma mais tranqüila. A psicóloga, porém, informou a Marcos que quer, em algumas ocasiões, apenas um pouco de colo, entretanto sente-se cobrada em demasia e constrange-se em pedir ajuda.
São cruéis as cobranças acima.
Entretanto, podemos livrar-nos desta crueldade.
A liberdade tão almejada de podermos bradar aos quatro ventos que queremos colo, ou que não sabemos de tudo, pode ser conquistada com a prática da humildade e do autoconhecimento.
Autoconhecimento para entendermos que somos Espíritos em aprendizado, logo, mesmo que especialistas em alguma área detemos conhecimento relativo e não absoluto, porquanto esta área está evoluindo e, claro, nós também.
Aliás, diga-se de passagem, que conhecimento absoluto em qualquer campo é atributo apenas de Deus.
Humildade para termos a coragem de dizermos: Não sei… Humildade para cantarmos a todos que, não obstante sermos o presidente do centro espírita, também necessitamos recompor as energias e receber o passe.
A humildade traz-nos a liberdade de podermos ser e sentir, de caminhar sem máscaras, tal qual somos, ou seja, sem a pretensa idéia de superioridade que caracteriza, não raro, aquele que conseguiu avançar em alguma área do conhecimento.
Kardec explica Jesus em O Evangelho segundo o Espiritismo e informa-nos que os humildes entrarão no Reino de Deus. É a humildade a virtude que mais nos aproxima do Pai. Entenda-se Reino de Deus como a paz de consciência, ou seja, a harmonia interior de alguém, leve, sem o peso das cobranças sociais ou individuais para sempre saber, sempre conhecer, sempre ter uma resposta na ponta da língua.
Definitivamente não sabemos tudo…
Definitivamente necessitamos, também de colo e de sermos cuidados, amados, queridos, dengados…
E penso ser um grande prazer permitir-se gritar:
Não sei, não sei, não sei…
Porém, infelizmente esta coragem é para poucos…
Uma pena…
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