Orson Peter Carrara
Com o título Livre-Pensamento e Livre-Consciência, Allan Kardec publicou em sua Revista Espírita, edição de fevereiro de 1867, importante abordagem que se refere a duas classes de livres-pensadores: os incrédulos e os crentes. Destacando trecho de um jornal de um deles, discorre em seguida com grande propriedade sobre a velha questão da crença e seus desdobramentos. A matéria completa é uma preciosidade e indicamos com muita ênfase aos amigos leitores. Destacamos, porém, um pequeno trecho onde a lucidez e a lógica dos argumentos traz importante contribuição reflexiva:
- E. 1867, fev/1867:«O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega substituindo a uma outra fé cega ou, dito de outra forma, uma escravidão do pensamento sob uma nova forma? Para crer nisso seria preciso se ignorasse os seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo coloca, em princípio, que antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender, é preciso usar de seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo em vez de nada admitir, em saber o porquê e o como de cada coisa; (…) Ele não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos; em vez de dizer: «Creia em primeiro lugar e se puder compreenda em seguida», ele diz: «Compreenda em primeiro lugar, e creia em seguida se você quiser» Não se impõe à ninguém; diz a todos: «Veja, observe, compare e venha a nós livremente se tal lhe convier». (…) O Espiritismo, procurando não descartar nenhum dos concorrentes dentro da liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, está dentro das condições da verdadeira liberdade de pensamento; e não admitindo nenhuma teoria que não seja fundamentada sobre a observação, está, ao mesmo tempo, dentro daquelas de mais rigoroso positivismo; enfim, tem sobre seus adversários, de opiniões contrárias extremas, a vantagem da tolerância.”
Essa liberdade de análise, aceitação ou não dos ensinos e princípios apresentados oferece grande segurança aos que do Espiritismo se aproximam, como critério que nunca força e sempre oferece oportunidade de conhecimento para julgar com precisão os próprios fundamentos. Isso é verdadeira vacina preventiva contra decepções ou ilusões de qualquer espécie, uma vez que incentivando de maneira expressiva o uso da análise racional e oferecendo liberdade de aceitação ou recusa, fica para o pesquisador ou mero observador a consciência de que – como pondera o Codificador em seu texto – o Espiritismo “(…) não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos (…)”.
Convido o leitor a refletir maduramente sobre essa observação. A estruturação doutrinária do Espiritismo está absolutamente alicerçada sobre fatos observados e a experiência daí advinda. Que fatos, poderia indagar o leitor comum? E respondemos, sem hesitação: no fato das manifestações produzidas pelos espíritos, que são nada mais nada menos que os seres humanos, portanto pensantes, que se manifestam aos chamados homens do planeta, quando estão na dimensão extrafísica, seja antes ou depois da experiência carnal no planeta.
Não é, por si só, um tema empolgante, para pensar e conhecer ainda mais?
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